Delegação do Banco Mundial encantada com os aldeões da comunidade de Cassuculo

A vocação dos moradores da aldeia de Cassuculo pela prática da agricultura, continua a despertar interesse. Um mês depois de ter recebido a visita da Unidade de Implementação do Projecto Diversifica, agora, foi a vez do Banco Mundial, em missão na província do Huambo.

Fazendo-se acompanhar de uma delegação com pouco mais de 20 membros, o Representante do Banco Mundial em Angola e São Tomé e Príncipe, baseado em Luanda, Juan Carlos Alvarez, fez questão de constatar in loco, no dia 14 do corrente mês, as competências dos aldeões de Cassuculo no que diz respeito à produção do abacate e das respectivas mudas para o seu plantio.

A aldeia de Cassuculo está situada na zona periférica da cidade do Huambo, por dentro do perímetro do Instituto de Investigação Agronómica. Grande parte dos aldeões, alguns hoje “reformados”, foram antigos funcionários desta instituição académica e de pesquisa   

Quem chega ao centro da aldeia, depara-se logo com abacateiros espalhados ao longo das pequenas ruas de acesso. No Cassuculo é natural ver um ou mais abacateiros nos quintais dos moradores. Falta a luz eléctrica, mas não falta energia e habilidade técnica nas mãos daqueles humildes aldeões para o cultivo de mais de 48 espécies de abacate.

A grande riqueza da aldeia é o conhecimento que lhes dá a capacidade para fazerem cruzamentos de diferentes espécies do abacate com a finalidade de melhorar a qualidade da fruta. Afinal, muitos são filhos de antigos funcionários do Instituto de Investigação Agronómica.

Assim, para o cultivo das mudas de abacates, recorrem a viveiros em estufas improvisadas, contudo, eficazes. Ou seja, cada quintal de um aldeão de Cassuculo facilmente é transformado num viveiro e a venda de mudas de abacate está entre as principais fontes de renda daquela comunidade.

A delegação, guiada pelo soba Carlos Norberto, visitou alguns viveiros, à medida que ia recebendo informações.  O soba é um antigo funcionário do Instituto de Investigação Agronómica. Os longos anos de trabalho, permitem-lhe partilhar o conhecimento acumulado com os netos e outros moradores.

Mas a pergunta que persiste é:

De que forma é que se pode empoderar uma comunidade tão habilidosa do ponto de vista agrícola como a de Cassuculo?

A Gestora do Projecto “Diversifica Mais” por parte do Banco Mundial, Sunita Varada, é de opinião que esta comunidade deve ser integrada às grandes iniciativas.

Já o Especialista do Banco Mundial para a Agricultura, Marcelino Ferreira, relativamente à questão levantada, diz ser fundamental, à partida, compreender a comunidade numa perspectiva sociológica, visto que o processo de empoderamento de comunidades rurais e não só, significa que as pessoas, grupos, instituições realizam entre si mesmas, num determinado espaço, mudanças e acções necessárias que as levam a evoluir e a fortalecer-se.

Marcelino Ferreira
Avelino de Carvalho

É assim que, durante a visita, Marcelino Ferreira constatou que a comunidade do Cassuculo é um grupo social, histórico, que fruto da relação de proximidade e de envolvimento de décadas com a Estação Experimental Agrária da Chianga (Instituto de Investigação Agronómica), desenvolveram habilidades e experiências técnicas de produção, multiplicação de mudas e de produção de abacate, e deste benefício, é até aos dias de hoje, o único meio de economia e de subsistência daquela população.

A visão de Marcelino Ferreira conjuga com a de outro Especialista para questões ambientais do Projecto “Diversifica Mais”, Avelino de Carvalho, que defende ser fundamental compreender o caracter histórico da comunidade de Cassuculo com o Instituto de Investigação Agronómica.

Porém, no entender do Especialista do Banco Mundial para a Agricultura, a actividade produtiva realizada pela comunidade de Cassuculo não vislumbra o desenvolvimento socioeconómico sustentável naquela região, o nível de pobreza é visível na medida que o grupo social é privado ainda das necessidades básicas, como alimentação, habitação, água, saúde, etc, com o mínimo de qualidade. Em Cassuculo Não há luz eléctrica.

Marcelino Ferreira é de opinião que, a comunidade de Cassuculo deve ser empoderada, olhando para várias acções de desenvolvimento rural necessárias. “Primeiramente”, diz o especialista, “é importante que se possibilite que programas de desenvolvimento rural e comunitário cheguem e sejam adoptados de forma participativa e inclusiva, isto é, que os mecanismos para o desenvolvimento daquela localidade sejam de uma gestão social com uma planificação participativa que permite a interacção entre os diferentes representantes, líderes e forças (Mão de obra) economicamente produtivas, e o poder público”.

Por conseguinte, no âmbito da planificação participativa, o Especialista do Banco Mundial para a Agricultura, Marcelino Ferreira, avança como exemplo, a figura de um facilitador (pessoa, ou grupo de pessoas) comunitário, com acção principal de apoiar a comunidade na organização de grupos de homens, mulheres e jovens, por competências e valências (potencial humano), que facilite o processo pelo qual a comunidade possa descobrir e aprender a fazer as coisas que ela deve fazer, tornar fácil a comunicação, o conhecimento e a integração, apoiar os processos de mudança das pessoas e dos grupos com base nos seus conhecimentos, habilidades e atitudes.

“Aqui podemos chamar o IDA – Instituto de Desenvolvimento Agrário à responsabilidade de constituir esta figura, que de forma geral vai responder a um diagnóstico da situação, dos problemas e soluções para o desenvolvimento sustentável da comunidade”, disse.

Marcelino Ferreira diz ainda que, com base nas experiências dos projectos que acompanha, mediante a visão de se criarem sinergias, uma vez identificadas convergências de implementação naquela comunidade, pode-se estabelecer um memorando de implementação conjunta (na forma de teste piloto).

E, à guisa de exemplo, o especialista do BM cita o MOSAP3 – Projecto de Transformação da Agropecuária Familiar, financiado pelo Banco Mundial, no sentido de levar àquela comunidade de Cassuculo, na província do Huambo, a prática agrícola através das Escolas de Campo, direccionada à indução de pacotes tecnológicos agrícola e pecuária resilientes e sustentáveis, focada nas boas práticas de produção do potencial já existente (abacate) e de outras culturas de subsistência e de rendimento alternativo.

O Njila, outro projecto do governo angolano também financiado pelo Banco Mundial, na óptica de Marcelino Ferreira, pode entrar no apoio ao acesso e a gestão de terras daquela comunidade para exploração agrícola, e de outros serviços de ligação de associações ou cooperativas. Iniciativas como o Projecto “Diversifica Mais” ou PDAC podem ser fundamentais no financiamento à produção e no acesso ao mercado. A mesma solução se coloca para outras necessidades como água, saúde e formação e emprego.

A visão de Marcelino Ferreira é confirmada, mais uma vez, por Avelino de Carvalho, Especialista para questões ambientais do Projecto “Diversifica Mais”, que defende ser fundamental compreender a ligação histórica da comunidade de Cassuculo com o Instituto de Investigação Agronómica. Entende ser necessário potencializar a comunidade a fim desta caminhar com os seus próprios pés e à volta nascerem outros projectos. Um dos problemas da comunidade é o escoamento das diferentes culturas ali produzidas.

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